“Um palito de fósforo guarda fogo suficiente para incendiar sua casa inteira. ”

A frase acima, extraída de um texto do escritor André Gravatá, provoca-me a refletir sobre a atenção que temos dado aos nossos sentidos e com o que estamos nos conectando nos últimos tempos, derivando maior ou menor lucidez, presença e afeto com o mundo, com a realidade.

 

Sempre atravessados pela prerrogativa do tempo, ignoramos nossos limites, atiçamos a criticidade para com todos, principalmente para com nós mesmos, e seguimos desvairados da consciência óbvia de só termos esta vida ou o momento presente.

 

Por generosidade da vida, pousam em nós palitos fosforados sinalizando as pausas necessárias para olharmos respeitosamente para nossos limites e passarmos a agir com atenção plena ao que fazemos, com afetividade e com consciência temporal. Para assim, permitirmos a constatação vívida de que estamos em constantes aprendizagem e transformação.

 

Acendemos o zelo de nos perguntarmos com maior constância o que precisamos naquele momento, e com bondade, passamos a buscar na vivência o que nos é suficiente, nem mais, nem menos, suficiente.

 

Suficiente para nos reconhecermos humanos, com experiências comuns e com olhar curioso para as emoções, que nos saltam todos os dias e nem assim, nos definem por inteiro.

 

Humanos para praticarmos a gentileza e a compaixão com naturalidade, que nos fazem serenos para encarar as transformações esperadas e inesperadas, que invariavelmente o ciclo vital traz. E que, de uma forma ou de outra, aguça nossos sentidos, dos rastreadores de sensações e dos recuperadores de significados.

 

Observemos melhor os palitos de fósforos, mesmo que usemos mais os acendedores automáticos.

 


Dra. Ana Cristina Benevides Pinto
CRP 11/0662
Psicóloga, Psicodramatista nível III.
Participa da Equipe do Tratamento Transdisciplinar da Obesidade no Centiser.
Atende adultos e obesos