A prática constante e regular dos exercícios físicos é redundantemente sabida como benéfica para a saúde do corpo, da mente, além de assegurar qualidade de vida e longevidade.

Costumo esclarecer para meus pacientes que a razão de prescrevermos os exercícios físicos com frequência mínima de três vezes por semana, em dias alternados, fundamenta-se na duração do efeito medicamentoso e protetor deles ser de 48h.

Consideremos, então, quão extenso é o dano de ficarmos inativos durante o isolamento social, imposto pela pandemia do covid-19. Para melhor destrinchar, cito alguns aspectos:

• Alteração no tempo e na qualidade do sono, levando ao aumento da resistência à insulina e da secreção do cortisol, menor liberação da leptina e maior liberação da grelina, trazendo como consequência, o aumento da necessidade de ingerir mais carboidratos, predispondo ao aumento do percentual de gordura e das doenças desencadeadas pela obesidade, como diabetes, hipertensão, dislipidemias etc.

• Diminuição da massa magra, que acarreta prejuízo nos reflexos e na força muscular (entre 4 a 6 semanas sem treinamento, perdemos cerca de 10% da força e potência muscular), aumentando o risco de quedas, principalmente nos idosos. Está diretamente relacionada à diminuição do metabolismo basal, ou seja, quanto menos músculos, menos energia nosso organismo gasta para funcionar, o que causará um ganho de peso, a médio e longo prazo.

• Redução da resistência aeróbica de forma rápida, ocasionando a diminuição da capacidade do nosso organismo captar, transportar e transformar o oxigênio em energia, permitindo que atividades antes realizadas com facilidade, se tornem mais difíceis, como subir escadas, varrer e lavar a casa, o carro, atravessar a rua, etc.

• Diminuição da imunidade, pois de uma maneira geral, o exercício de intensidade moderada promove proteção contra infecções causadas por microrganismos intracelulares.

• Aumento das dores articulares, pois a prática regular do exercício físico reduz o processo inflamatório das articulações portadora de artroses, diminuindo o estresse mecânico ao fortalecer os grupos musculares peri articulares. Também estimula a produção de líquido sinovial que, além de proteger, nutre a cartilagem articular. Este efeito analgésico decorrente do exercício físico é desencadeado pela ativação de diferentes sistemas do organismo, principalmente o opióide.

• Aumento do nível de estresse emocional, pela ausência da descarga de tensão e liberação de endorfinas e de dopamina, responsáveis pelas sensações de bem-estar, de prazer e importantes na prevenção e tratamento da depressão.

Parafraseando o slogan da ACSM (American College of Sport Medicine) – Exercise is medicine -, falo que o exercício físico é remédio e que o sedentarismo é doença.

Mesmo em tempos de distanciamento social, devemos minimamente nos exercitarmos em casa para minimizar os prejuízos. E ao retornarmos ao “novo normal” ajustarmos a dose desde remédio para desfrutarmos das suas benesses.

Este ajuste dar-se-á com a adequação de parâmetros como volume e intensidade na prescrição do treino, a partir dos referenciais individuais de cada paciente/atleta. Dados estes coletados na avaliação física e na ergoespirometria, como fazemos e continuaremos a fazer no Centiser, dentro do nosso espaço de exercício físico denominado de Laboratório de Força.

Com estes parâmetros atualizados, a partir do que cada paciente/atleta viveu no período da pandemia, teremos direcionamentos assertivos para obtermos os melhores resultados, o mais rápido possível.

Reunimos nossas forças de trabalho e ciência para implantarmos Saúde para Viver Feliz.


Dr. Flávio Henrique Macedo Pinto
Médico do Esporte, trauma-ortopedista e diretor do Centiser.
CRM 5655

FONTES DE PESQUISA

  1. The Detraining and Retraining of an Elite Rower: A Case Study. J Sci Med Sport. 2005 Sep;8(3):314-20. DOI: 10.1016/s1440-2440(05)80042-8.
  2. The Effects of Short Term Detraining and Retraining on Physical Fitness in Elite Soccer Players. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29746505/
  3. The Effects of Detraining and Retraining Periods on Fat-Mass and Fat-Free Mass in Elite Male Soccer Players. eerJ. 2019 Aug 13;7: e7466. doi: 10.7717/peerj.7466. e Collection 2019.
  4. Pedersen BK, Hoffman-Goetz L. Exercise and the immune system: regulation integration and adaption. Physiol Rev 2000;80:1055-81.
  5. Ostrowski K, Rohde T, Asp S, Schjerling P, Pedersen BK. Pro and anti-inflammatory cytokine balance in strenuous exercise in humans. J Physiol 1999;515:287-91.
  6. Pedersen BK, Febbraio MA. Muscle as an Endocrine Organ: Focus on Muscle-Derived Interleukin-6. Physiol Rev 2008;88:1379-406.