De difícil diagnóstico por se confundir com outros transtornos psicoemocionais, como estresse e depressão, esta síndrome sido mais frequente nos últimos tempos e vem nos conclamado a intervir prevenindo e tratando esta resposta tão alarmante do corpo às cobranças internas (autocobrança) e externas relacionadas ao trabalho.

Interessante considerarmos que antes da pandemia, já padecíamos de sintomas relacionados, como o cansaço permanente e os automatismos das relações profissionais e até afetivas. Mas a presença ameaçadora da Covid-19 acentuou o estresse por causa dos riscos de perder a vida e os meios produtivos de sustentá-la.

A sociedade mercadológica força a produção e o trabalhador se explora a render mais e mais. Tanto para se manter ativo no mercado quanto para se sentir capaz, idealmente primando por suas noções autovalorativas.

O que caracteriza a sobrecarga emocional do trabalho em home office?

Dentre vários aspectos, gostaria de pinçar a pseudoliberdade, advinda de estar trabalhando em casa, como se fôssemos chefiados por nós mesmos. Mas, acabamos nos tornando censores internos, que exigindo melhor rendimento sempre, permanecemos iludidos de sermos livres por mandarmos em nós mesmos.

Nossa voz interna ecoa as requisições externas, fundadas na cultural neoliberal e veiculadas pelas mídias sociais, de que o fracasso é por culpa individual e de que todos são sucesso, que no fundo sabemos ser aparente, mas que acabamos tentados por ele, como fator inclusivo.

Mas para que nos submetemos às facetas do ego encenadas nas mídias? Este questionamento é dilatador para outras searas da vida, além de ser campo de reflexão e principalmente de intervenção psicoterápica.

Sendo esta um dos principais recursos para a superação da Síndrome de Burnout, ainda mais agravada pelas questões advindas da pandemia.

Definir uma rotina diversificada com atividades laborais, de lazer, com alimentação saudável e prática regular de exercícios físicos, como também limitar a permanência nas redes sociais e priorizar contatos pessoais conosco mesmos e com nossa rede afetiva, primando por um diálogo bem-sucedido elevam a nossa saúde emocional e previnem síndromes, como a de Burnout.

Uma vez instalada, esta Síndrome requer criterioso diagnóstico para intervenções precisas por médico psiquiatra e psicólogo clínico, que certamente serão guarnecidos das intervenções de profissionais, como os de educação física, de nutrição, dentre outros.

Concluo lembrando que o trabalho é fonte de dignidade para o homem e deveria ser também instrumento de vivificação. Assim, precisamos constantemente nos indagar: vivemos para trabalhar ou trabalhamos para viver?


Ana Cristina Benevides Pinto
CRP 11/0662

Psicóloga, psicodramatista e diretora do Centiser- Centro de Tratamento e Integração do Ser.